Introdução à Noomaquia (Lição III) - O Logos da Civilização Indo-Europeia

Vamos agora aplicar os princípios metodológicos apresentados nas duas primeiras lições a uma realidade concreta. Nós discutimos anteriormente a teoria dos três Logoi [1] e os conceitos de horizonte existencial e historialidade [2]. Agora, vamos aplicar isso à civilização indo-européia [3].

Antes de tudo, vamos lidar com o horizonte existencial indo-europeu. Nesse sentido, é necessário especificar que o conceito de horizonte ou espaço existencial pode ser aplicado em diferentes escalas, tanto para pequenas comunidades quanto para médias ou grandes comunidades, unidas, por exemplo, pelas mesmas origens linguísticas. O que, então, significa um horizonte existencial indo-europeu? Trata-se de um vasto tipo de união, coincidindo com o espaço em que vivem os povos que falam línguas indo-européias. A família de línguas indo-européias inclui as línguas latinas e românicas, o grego, as línguas germânicas, as línguas celtas, as línguas eslavas, o persa, o sânscrito e outras línguas prácritas, o hitita da antiga Anatólia, o frígio, a língua ilíricas, as línguas bálticas, etc. É interessante notar que a língua romani também pertence a essa comunidade linguística indo-europeia; os ciganos têm origens incertas, mas também falam um idioma indo-europeu. O mesmo pode ser dito da língua iídiche: ela também pertence a essa família, sendo uma língua essencialmente germânica. Portanto, o ecumenismo indo-europeu, o horizonte existencial indo-europeu, é mais ou menos coincidente com o espaço habitado pelos povos que falam essas línguas. É um espaço imenso, que cobre um número enorme de populações, e de histórias, muito contraditórias e conflituosas, mas que equivale ao espaço existencial dos povos que falam línguas indo-europeias.

Na segunda lição, vimos que podemos definir povos e culturas, por meio de seu horizonte existencial, pelo espaço, e também através de sua historicididade. Portanto, é correto falar da história indo-européia, ou melhor, da sequência de eventos históricos indo-europeus. Veremos mais adiante em que consiste essa sequência geral de eventos e quais versões ela admite. Agora, em vez disso, focaremos nas principais características do horizonte existencial indo-europeu, a fim de definir o Dasein indo-europeu. O que é o Dasein indo-europeu?

Turan e a Hipótese Kurgan

Primeiro, devemos prestar atenção a um conceito muito importante, o conceito de Turan. Normalmente, o termo Turan é usado para indicar o espaço em que o povo turco vive, mas, na realidade, esse termo é de origem puramente iraniana, muito mais antigo que o aparecimento das primeiras tribos turcas na Ásia Central ou nas estepes eurasiáticas. Turan é um termo indo-europeu pertencente à antiga religião zoroastriana e foi usado na tradição iraniana muito antes da manifestação ou criação das primeiras tribos turcas.

Qual é o seu significado então? Sabemos que Firdūsī, um poeta persa da Idade Média, autor de um poema épico sobre a sequência de eventos históricos iranianos chamado Shāhnāmeh. O Shāhnāmeh baseia-se no conflito entre Irã e Turan, um dualismo emprestado do Avesta, das antigas fontes pré-islâmicas. O Irã aqui indica as populações sedentárias de ascendência iraniana, tal como as conhecemos, vivendo na Pérsia, na Média ao norte da Pérsia, no Cáucaso. O traço essencial do Irã era o sedentarismo de seu povo. E Turan era o espaço em que os povos nômades viviam. O significado original dessa palavra indo-européia é “tribo” ou “povo” (como no caso de “deutschen” ou do “tautos” lituano). Turan, portanto, indica o povo das estepes; representa o espaço habitado pelas tribos nômades, que na época do Avesta eram indo-européias.

Estamos, portanto, lidando com um dualismo cultural e civilizador muito interessante (ao qual retornaremos no final desta lição): O Irã e Turan representam, em seu significado original, dois tipos ou versões de sociedades indo-européias, respectivamente sedentárias e nômades. Esse dualismo é muito importante porque tem a ver com a origem dos povos indo-europeus. No entanto, quando começamos a investigar que tipo de sociedade, entre Irã e Turan, é mais antiga, chegamos à conclusão de que as tribos indo-europeias turanianas foram as primeiras a aparecer e que, portanto, as populações iranianas na origem da cultura iraniana sedentária eram tribos outrora nomádicas que se tornaram tribos sedentárias. Todas essas tribos vieram do mesmo espaço turânico. Todos concordam que a origem da cultura indo-européia está em Turan. No entanto, existem muitos debates sobre sua localização exata: para alguns, o centro dessa cultura deve ser procurado muito mais a leste, para outros ao sul dos Urais, para outros ainda na área do Mar Cáspio ou ao norte do Mar Negro. Mas, de qualquer forma, a pátria original, a chamada Urheimat dos povos indo-europeus, deve estar localizada em algum lugar da vasta área que vai do Danúbio ao sul da Sibéria. Então essa é a Urheimat, algo que não é exatamente pátria, mas pré-pátria. Essa identificação é o princípio mais importante das origens da civilização europeia.

Um segundo ponto fundamental a ter em mente, se encontramos a localização original é que as primeiras culturas indo-européias eram nomádicas, portanto, intimamente relacionadas ao pastoralismo. As primeiras tribos indo-europeia turanianas eram essencialmente constituídas por pastores nômades. A esse respeito, recomendo a leitura das obras de Marija Gimbutas, arqueóloga e lingüista lituana, que ilustrou brilhantemente a expansão indo-européia. Segundo Marija Gimbutas, assim como muitos cientistas e arqueólogos russos, a origem das tribos indo-européias deve estar localizada em algum lugar ao sul dos Urais, perto da cidade de Chelyabinsk, onde recentemente foi descoberto um assentamento turaniano muito antigo pertencente às tribos nomádicas indo-européias chamado Arkaim.

Sabemos que é sabedoria comum e posição científica consensual que as pessoas de onde se origina a literatura indiana védica também vieram do norte, daquele mesmo espaço turaniano do qual os ancestrais dos povos iraniano, helênico, romano, latino, germânico, celta, eslavo, báltico e hitita (uma  das tribos mais antigas). Todos esses povos vieram do mesmo espaço turaniano, da mesma terra natal original, do mesmo Urheimat. E todos eles eram portadores da mesma cultura pastoral nômade. De acordo com Marjia Gimbutas, essas tribos indo-européias se espalharam por várias ondas migratórias, cada uma das quais trouxe novas línguas, novas formas de falar, novas combinações de diferentes dialetos indo-europeus que se constituíram na origem das línguas indo-européias modernas – eles eram portadores do que foi chamado de cultura Kurgan.

Em nossa discussão, a cultura kurgan assume um papel de destaque. Podemos reconstruir, seguindo essa teoria, toda a sequência histórica das fases de criação das sociedades indo-européias. O primeiro ponto aqui é que existia uma Urheimat, a pátria indo-européia ancestral, localizada em algum lugar possivelmente ao sul dos Urais. Eu não vou insistir no problema da localização concreta, mas há uma maioria razoável de historiadores sérios que concordam com essa localização.

O segundo ponto é que os proto-indo-europeus eram todos eles povos nômades e pastorais; não se tratava, portanto, de agricultores sedentários. Eles eram uma estirpe de guerreiros, foram os primeiros na história a domesticar cavalos (a domesticação do cavalo surge exatamente do espaço turaniano) e atravessaram as estepes para conquistar novos espaços: saindo da Urheimat, conquistaram tudo que havia pela Eurásia entre a Índia e as Ilhas Britânicas. Portanto, na hipótese de Kurgan, os ancestrais de todas as tribos e povos indo-europeus eram nômades e pastores, vivendo no espaço turaniano, todos falando a mesma língua proto-indo-européia da qual todas as línguas indo-européias se originam e elaboraram uma cultura que está na origem de toda sociedade e civilização indo-européia: uma cultura e civilização proto-indo-européia que podemos identificar com o modelo de vida nômade, com a ética guerreira e heróica, com a domesticação de cavalos e – muito importante! – com o círculo solar como seu símbolo principal.

O etnólogo alemão Leo Frobenius, que consideramos bastante interessante, descreveu o ciclo histórico de uma cultura dividindo-o em três etapas:

• o primeiro estágio é o Ergriffenheit, a "fascinação", você é fascinado por alguma coisa, possuído pelo espírito, pela beleza, por um Deus, por um sentimento interior, etc;

• o segundo estágio é o Ausdruck, a “expressão” desta possessão, você se liberta dessa possessão tentando expressar em imagens, em formas externas aquilo que te possui e te fascina;

• o terceiro estágio é o Anwendung, o “uso”, a aplicação do resultado dessa expressão ao campo técnico.

Podemos ver como, na fase turaniana indo-européia arcaica, todas as três etapas estão relacionadas ao conceito de círculo. Antes de tudo, existe o sol, o sol como divindade, o sol como dia, o sol pretendido como um signo apolíneo. O primeiro estágio é o fascínio com o sol, o ser possuído pelo sol, a adoração do fogo, da luz, do céu, do próprio sol como o centro de seu fascínio. O segundo estágio é a criação de seu símbolo, o símbolo do círculo, que é adorado por seus adoradores como algo que os possui, como uma espécie de concentração interior do sol. O terceiro estágio é a aplicação técnica deste símbolo: daí a roda aparece e, com ela, o carro de guerra. É geralmente aceito que os primeiros aurigas foram indo-europeus. E com a ajuda do carro de guerra, eles conquistaram todas as áreas da Eurásia, da Índia às Ilhas Britânicas, passando pela Pérsia, pela península helênica e pelos Bálcãs. Todos os espaços europeus foram conquistados por meio de um carro puxado a cavalo, baseado na roda, ou seja, na aplicação do círculo solar à área técnica. Em resumo: eles eram fascinados pelo sol, adoravam o sol, usavam o símbolo do sol do ponto de vista técnico para criar o carro de guerra e, através dele, expandiram os raios de sua cultura solar por todo o continente eurasiático a partir da Urheimat turaniana. Esta é aproximadamente a sequência histórica indo-européia dos tempos pré-históricos. É uma espécie de destino: ser como o sol, portanto brilhar e expandir a luz da própria cultura solar a partir do ponto inicial, da terra natal original.

Este é um ponto muito importante para entender o que é o Dasein indo-europeu, que se reflete em todas as línguas e culturas indo-europeias. Todos os povos indo-europeus são herdeiros desse Dasein indo-europeu porque falamos, pensamos, somos definidos, somos pré-figurados e somos pré-definidos por esse Dasein solar indo-europeu da cultura turaniana, pertencente às tribos nômades e guerreiras das estepes. Essa foi a origem comum de todos os tipos sociais e culturais Kurgan, segundo Marija Gimbutas e muitos outros. Kurgan é um lugar. E o símbolo é o monte sobre a tumba. Kurgan é uma espécie de monte artificial sobre um túmulo. Isso é muito importante porque se trata de uma verticalidade, de construção simbólica de uma sociedade vertical. E o segundo símbolo é a presença de armas no túmulo, porque em outras culturas isso não era visto. E o cavalo. Cavalo, arma e monte são os três símbolos desse tipo kurganiano de cultura. Eis o Dasein indo-europeu.

Do coração de Turan –  que podemos presumir estar em algum lugar ao sul dos Urais, nos arredores das estepes cazaque-russas, onde aliás foram encontradas as primeiras rodas e os primeiros vestígios de domesticação de cavalos – hoube, portanto, uma espécie de expansão, que não foi apenas física (a fim de procurar novas terras para alimentar os cavalos e o gado) mas também cultural, como imitação do sol: a partir da “pátria sagrada” da tradição indo-européia, do pólo solar localizado no coração de Turan, uma expansão em várias ondas dos raios solares da cultura Kurgan começou em todas as direções possíveis. Os principais portadores dessa cultura, as tribos nômades indo-européias, colonizaram quase todo o continente eurasiático, do extremo ocidente à Índia e atravessando a Índia até o Oceano Índico, expandindo o budismo, como produto da cultura indiana e continuação da influência indo-europeia, até a cultura chinesa, que era completamente diferente.

A conclusão mais importante que podemos tirar é que o protótipo da cultura indo-européia objeto de nosso estudo, o tipo mais puro dessa cultura, se encontra nas tribos nômades indo-européias, como as atuais tribos afegãs (pashtun), os ossetas (descendentes diretos dos sármatas) ou iranianos-paquistaneses (balúchis) que preservaram e renovaram esse tipo de cultura turaniana e algumas delas se tornaram sedentárias apenas recentemente.

Essa ideia também estava presente em Oswald Spengler. Há um escrito póstumo e incompleto de Splengler, publicado recentemente, intitulado A Epopeia do Homem, em que o autor de O Declínio do Ocidente propõe a existência de três protocivilizações: Atlântida (com sua cultura megalítica), Kush (que cobre a área afro-asiática entre o norte da África e o Oriente Próximo), e Turan (que abrange a área da Europa Central à China). Essa teoria se encaixa perfeitamente na hipótese Kurgan de Marija Gimbutas e nos estudos lingüísticos proto-indo-europeus, uma vez que a origem comum das línguas indo-européias é identificada na mesma área indicada por Spengler, que por sua vez coincide com a Urheimat proto-indo-europeia a partir do qual, de acordo com a teoria kurgan, os ancestrais dos povos indo-europeus se originam. Spengler, Gimbutas, arqueólogos, linguistas: todos indicam a mesma área, o Turan.

A Estrutura do Logos Indo-Europeu

Agora, o que podemos dizer sobre a estrutura noológica da sociedade turaniana proto-indo-européia? Aqui, um autor muito importante, Georges Dumézil, vem em nosso auxílio, e eu recomendo a leitura de suas obras. Dumézil foi um historiador francês que dedicou toda a sua vida a uma brilhante investigação da cultura indo-européia, realizando um exame comparativo escrupuloso de todos os tipos de mitologias, religiões, lendas, canções, simbolismos etc., pertencentes às tradições escritas e orais dos povos indo-europeus. Entre os numerosos livros que ele escreveu, recomendo a leitura de um texto muito importante intitulado A Ideologia Tripartida dos Indo-Europeus [4], que é uma espécie de sinopse de seus estudos sobre esse tópico.

O principal resultado de sua pesquisa sobre a estrutura da sociedade indo-européia é a teoria trifuncional. Dumézil chegou à conclusão de que todos os tipos de culturas indo-européias, antigas ou modernas, eram baseadas em uma divisão funcional tripartida. Em essência, isto é, toda sociedade indo-européia consiste em três castas:

• a primeira casta, correspondente à função da soberania religiosa, é a dos reis-sacerdotes; eles não eram considerados homens, mas seres divinos ou sagrados: reis sagrados ou sacerdotes sagrados. Os reis-sacerdotes tinham sua própria ética, uma metafísica própria, a ideia de que eles possuíam um tipo especial de espírito feito de luz, e seu papel estava baseado na própria idéia do sol; em outras palavras, eles representavam o “Sol na Terra”. Eles eram fogo, eles eram luz, e representavam a luz como sol divino. Essa casta pode ser comparada à casta brâmane indiana;

• a segunda casta, correspondente à função da força, do poder bélico, é a casta dos guerreiros. No sistema iraniano, os guerreiros eram aurigas, na medida em que o carro de guerra constituía o principal símbolo da expansão no espaço turaniano das tribos indo-européias. No sistema indiano, a casta guerreira corresponde à dos xátria;

• finalmente, temos a terceira casta, a dos simples pastores que criam animais (gado, cavalos, etc.).

Toda a sociedade representava uma espécie de exército, um exército que se movia no espaço para lutar e morrer, porque não havia realmente morte em nossa compreensão. Havia um tipo de “elevação”. Cada alma era considerada como uma faísca celestial que descia à terra para retornar ao céu. Consequentemente, o objetivo máximo de um guerreiro não era sobreviver, mas morrer jovem em batalha e matar seus inimigos. Da mesma maneira, a tarefa do sacerdote não era viver muito, mas tornar-se sábio, puro, purificar a si e aos outros, enquanto o objetivo do pastor era ser leal e corajoso, e possuir muitos rebanhos, ovelhas e cavalos.

Esta sociedade era caracterizada por uma hierarquia vertical rigorosa, com sacerdotes no topo, os guerreiros no meio e os pastores na base. Os pastores estavam na base porque lidavam com os aspectos mais materiais da vida, por isso eram considerados menos “puros” e menos perfeitos, mas ainda assim eles aspiravam a ser sábios como os reis esacerdotes e bravos como os guerreiros. O sistema de valores, portanto, não se apoiavam nos simples pastores e seus objetivos, mas no centro havia sacerdotes e guerreiros, que definiam os valores éticos da terceira casta.

Nesta condição de verticalidade absoluta, podemos identificar a variante mais pura do Logos de Apolo, sua mais expressivo, brilhante e clara manifestação noológica. Todos os vivos eram considerados como descidos da luz solar, uma luz que desce aos sacerdotes sagrados, aos guerreiros por meio dos quais a expansão indo-européia ocorre e, finalmente, nos pastores; uma luz celeste que desce para voltar ao céu novamente. É interessante notar o quão dura era a terra nas estepes turanianas, de uma qualidade que a tornava inadequada para semear e plantar; era, portanto, um tipo de espaço que predispunha o retorno ao céu daquilo que descia sobre ele, já que não havia dimensão subterrânea. As criaturas simbolicamente mais demoníacas, mais negativas, eram de fato o rato ou cobra que viviam abaixo da superfície das estepes.

Essa sociedade não tinha raízes, ou melhor, as suas verdadeiras raízes estavam no céu. Em uma tradição do tipo, a sociedade, a realidade humana, não representava algo que crescia da terra, mas que crescia do céu, expandindo seus galhos na direção da terra – precisamente na forma das tribos indo-européias – e mais tarde retornando às raízes que a geraram, o que significa retornar ao céu, aos Deuses, ao fogo. Daí a prática da cremação, para que os mortos possam retornar à origem solar, ao fogo celestial. Este é um conceito diametralmente oposto ao que estamos acostumados hoje. Essa tradição indo-européia puramente nômade correspondia a um Logos puramente apolíneo.

Podemos dizer que ser indo-europeu significa ser apolíneo. E todo tipo de sociedade indo-européia que conhecemos – dos celtas aos alemães, passando pelos latinos, ilírios, trácios, helenos, gregos, hititas, iranianos, indianos, sármatas, eslavos, bálticos, etc. – estava originalmente fundado neste logos apolíneo. O nome “Apolo” é derivado da Grécia, mas podemos facilmente identificar o mesmo conceito nos Vedas, no Avesta, nos mitos germânicos de Odin, nas lendas e mitos celtas. Dumézil reuniu todas essas mitologias para compará-las e, lendo suas obras, as obras da escola fundada por ele e executada por Émile Benveniste – uma das mais importantes autoridades linguísticas do século XX, criador de uma espécie de dicionário de termos indo-europeus que demonstra a validade da hipótese duméziliana -, tudo parece muito claro.

O segundo ponto da teoria de Dumézil sobre o qual eu gostaria de me concentrar é o que ele chama de “ideologia indo-européia” [5]. A ideologia indo-européia é uma estrutura imutável e imensurável, representada na língua, na cultura, nos símbolos e na mentalidade dos povos indo-europeus que é exatamente a mesma da época do Urheimat. Em outras palavras, existem princípios constantes que influenciam nossa concepção do cosmos, da sociedade política, da história. Consideramos a sociedade como a imaginamos: no topo, colocamos uma intelligentsia ou classe de filósofos, eles são seguidos pelas forças armadas, depois o resto da população. É uma visão vertical e hierárquica, com o presidente ou líder no topo como uma espécie de rei sagrado antigo, seguido pela classe administrativa ou militar correspondente à casta dos guerreiros e, finalmente, ao restante da população representando a terceira casta. Essa visão é inerente a nós de uma maneira inconsciente, mas se analisarmos toda sociedade indo-européia – tanto a moderna quanto a antiga, seja cristã ou pagã, oriental (indiana, turânica) ou ocidental (celta, germânica, eslava, francesa, latina etc.) – descobriremos que ela é construída precisamente em torno desse eixo trifuncional. Segundo Dumézil, essa é uma ideologia inalterada pela qual podemos interpretar a história fundamental de qualquer Estado indo-europeu: sempre havia um mensageiro de Deus, algum rei sagrado vindo de fora, porque a fundação do reino é sempre de fora para dentro, de Turan vem os nômades para fundar a cidade capital, que constituía uma espécie de fortaleza militar guarnecida para defender sua posição, e que não era a continuação da aldeia. Trata-se de algo criado de fora para dentro. Esse constituía o cenário principal, em cuja base havia, portanto, uma lógica militar de conquista por heróis sagrados vindos de fora. Posteriormente, uma sociedade trifuncional era estabelecida, dentro da qual as relações entre sacerdotes e guerreiros, por um lado, e a massa da população, por outro, eram por vezes conflitantes; no entanto, nos vários mitos crônicas, histórias, histórias religiosas, canções antigas do folclore e assim por diante, encontramos descritas de muitas maneiras diferentes as mesmas três funções, que constituem o principal conteúdo da tradição indo-européia, através da qual se estabelece a verticalidade que caracteriza esse tipo de sociedade.

Aniliginia

Agora chegamos à relação entre os sexos nessa sociedade turaniana. Quando estudamos as relações entre os sexos na sociedade indo-europeia nomádica nos deparamos com algo bem interessante. Gimbutas, em certa ocasião, designou para a organização social que teria existido na Europa antes do patriarcado, antes da expansão indo-européia, caracterizada pela equivalência entre os sexos em uma sociedade matriarcal, o neologismo gilania. A gilania corresponderia não a uma dominação da mulher sobre o homem, mas a uma amizade no contexto de uma dominação do matriarcado. Em outras palavras, a gilania é a igualdade entre homens e mulheres, mas vista do ponto de vista feminino. Para estudar a relação entre os sexos na sociedade nômade indo-européia, eu proponho um neologismo oposto: aniliginia, que também indica uma parceria substancial entre homem e mulher, mas do ponto de vista masculino, indo-europeu, turânico. Estamos, portanto, lidando com dois neologismos: gilania, do grego antigo γυνή (gynē, a mulher), e aniliginia, do grego ἀνδρός (andròs, o homem). Ambos indicam paridade sexual, mas Gimbutas coloca a mulher em primeiro lugar, enquanto na sociedade turaniana patriarcal, é o macho que é selecionado como elemento estruturante. Não havia submissão da mulher pelo homem, mas uma parceria fundada na primazia do guerreiro solar e celestial. Homem e mulher eram equivalentes, mas em uma equivalência pautada no domínio enraizado na natureza solar do homem.

Na sociedade turaniana, os homens estavam sempre em guerra, enquanto as mulheres normalmente ficavam com os filhos. Elas ficavam na fortaleza ou no acampamento. Mas a vida não era pacífica, pois em todos os lugares havia o mesmo tipo de sociedade com características muito agressivas e expansionistas. Como resultado, as mulheres eram forçadas a defender as cidades, e por isso elas também tinham que ser igualmente heróicas, guerreiras. Caso contrário, elas estariam sujeitas a conquista. À sua maneira, elas também eram guerreiras e cultivavam os mesmos valores que os homens. Isso se refletia em muitas das tradições nômades turanianas. Por exemplo  antes do casamento, havia uma espécie de luta entre rapaz e moça e, se o homem não pudesse vencer a mulher, o casamento não poderia ocorrer. Era uma luta em que o homem tinha que testemunhar sua força, o seu poder sobre o poder dela. Isso se reflete no Complexo de Brunhilda, na psicanálise. No leito nupcial havia uma continuação da luta entre homem e mulher, e caso ele fosse superado, a mulher poderia até mesmo matá-lo, se ela quisesse. Não estamos falando de uma sociedade na qual a mulher está sujeita ao homem, mas de uma amizade militar entre homem e mulher, que é uma característica da aniliginia, baseada no reconhecimento do valor normativo do patriarcado.

Um caso extremo é o tipo da sociedade amazônica. Essa sociedade não era “feminista” como se pode imaginar, pois estamos lidando com uma projeção de um tipo de valores e cultura masculinos – coragem, força, poder, etc. – em uma sociedade feminina. Portanto, não é exatamente uma forma de matriarcado, mas uma forma limitadora de patriarcado, uma vez que as amazonas haviam aceitado todos os tipos de comportamento masculino. Isso também é uma expressão de aniliginia.

O tipo de sociedade turânica indo-europeia é, portanto, caracterizado pela aniliginia, com mulheres poderosas, muito fortes e independentes, capazes de se defender de possíveis agressões. Isso é puro patriarcado.

Não havia muitas Deusas nas mitologias indo-européias, e quando estavam presentes muitas vezes elas tinham características masculinas. Consideremos a divindade grega Atena, por exemplo. Ela era virgem, era sábia como os sacerdotes e corajosa como os guerreiros. Não é um tipo de mulher “maternal”, mas uma mulher turânica. Atena reflete os valores masculinos: a sabedoria, característica mais importante da primeira casta, da primeira função na teoria duméziliana, e a coragem, o espírito heróico, principal atributo dos guerreiros pertencentes à segunda casta. Não há espaço nessas imagens para a maternidade, para o destino puramente terreno das mulheres.

Este aniliginia está na origem do caráter apolíneo do Logos indo-europeu.

A Ideologia Indo-Européia em Platão

Aqui podemos nos referir a Platão. Platão é um pensador puramente indo-europeu e, como já foi dito na primeira lição, ele é o maior representante do Logos de Apolo. Também foi considerada a encarnação do mesmo deus Apolo por seus seguidores. Examinando três de seus diálogos, podemos ver a representação clara do universo trifuncional, do cosmos tripartido que caracteriza a cultura turânica indo-européia.

No Timeu, podemos ver como a cosmologia platônica é baseada em três tipos, três γένος (genos). Primeiro, exemplo ou paradigma (o Pai), segundo, imagem ou ícone (o Filho), e finalmente temos o conceito não muito claramente definido de matéria ou espaço, khōra. Este último não corresponde à matéria como a entendemos, à “substância”, mas ao espaço. Assim, na origem existe o paradigma, o Pai; então vem o Filho com  reflexo do Pai, e então, uma espécie de espaço, que não corresponde tanto à figura da mãe quanto à mulher que nutre, que fornece o espaço onde esse ato de reflexão ocorre. Assim, existem três níveis de realidade em Platão e o último, khōra, é apenas espaço e nada mais; esse espaço não representa a mãe dando à luz, mas algo que acolhe a influência que vem do topo da hierarquia, do paradigma, e a envia de volta. Esta é uma versão da cosmologia puramente indo-européia; podemos considerá-la uma tipologia cosmológica puramente apolínea, aceita enquanto tal no Cristianismo, no Medievo, na cultura romana, etc. Em outras palavras, a cosmologia contida no Timeu platônico é normativa para todas as linhagens indo-européias.

Por exemplo, podemos identificar um modelo semelhante nos Vedas, bem como na tradição iraniana. Temos substancialmente três mundos: o mais alto, o do meio e o terceiro, que constitui a superfície da terra a partir da qual o “retorno” começa. Na tradição neoplatônica temos a ideia da providência e retorno. Tudo vem do céu, desce do Pai Celestial e depois volta à origem, e isso é a epistrophe (ἐπιστροφή). Trata-se de um ciclo vertical. A vida é o evento do retorno e a morte não é o final, é um momento do retorno. Assim quando estamos imanifestos na Terra, existimos em uma condição superior. Em outras palavras, a terra constitui o ponto mais baixo da descida de nossa posição paradigmática interior, de nosso próprio espírito (Atman no hinduísmo): nossa alma imortal desce para subir, para retornar à origem, ao topo, ao que há de mais elevado.

Da mesma forma que foi dito para o Timeu, na República de Platão, temos o Estado ideal dividido em três classes: filósofos, guerreiros e produtores. Os filósofos, equivalentes aos sacerdotes da teoria de duméziliana ou, por exemplo, os brâmanes na sociedade hindu tradicional, são chamados a governar em virtude do fato de serem devotados à contemplação dos mais altos princípios, da origem da luz celestial, do fogo divino, uma vez que eles deixam a caverna platônica para observar a unidade, o sol e as estrelas. Seu direito de governar os outros deriva do seu vínculo com o céu. Os guerreiros, no Estado ideal, devem seguir os filósofos, enquanto todos os outros, ocupados em assuntos materiais, devem obedecer a ambos. Assim, no Estado ideal de Platão, encontramos o conceito de trifuncionalidade.

O mesmo Platão, no diálogo do Fedro, faz uma descrição tripartida da alma usando o mito da “carruagem alada”. Na teoria platônica, a alma é composta de três elementos: há um cavalo preto representando a επιθυμία (epitimia), a concupiscência, a tendência para os aspectos inferiores e materiais do mundo corporal (relações sexuais, nutrição e assim por diante); então há um cavalo branco que coincide com o θυμός (thumos), isto é, o desejo de glória, de reconhecimento, um valor próprio dos guerreiros e conectado não a aspectos materiais, mas espirituais; finalmente, temos o cocheiro, que representa o νοῦς (nous), essa é a razão, a parte intelectual central da alma, e cuja tarefa é dominar e guiar os dois corcéis, o branco em direção ao mundo das idéias e o preto em direção ao mundo sensível, para alcançar o hiperurânio. É interessante notar como nessa metáfora do Fedro vemos presentes mais uma vez o cocheiro, a carruagem e os cavalos, que são os elementos dessa cultura proto-indo-européia sobre a qual falamos inicialmente.

Assim, da mesma forma que a divisão tripartite funcional da sociedade, também a alma é composta de três partes dispostas verticalmente, onde o cocheiro corresponde ao sacerdote (o brâmane na tradição indiana), o cavalo branco corresponde ao guerreiro glorioso (o xátria) enquanto a inclinação material do cavalo preto, representando os piores aspectos segundo Platão, corresponde à terceira e última casta.

Alma, sistema político e cosmos, o mundo ao nosso redor, psicologia, politologia e cosmologia, tudo isso se baseia no mesmo esquema tripartido indo-europeu. Não é por acaso que o filósofo britânico Whitehead afirmou que a filosofia européia é apenas “uma série de notas de rodapé sobre Platão”. Platão é o filósofo por excelência. Ele é o filósofo absoluto. Críticas a Platão, desenvolvimentos da obra de Platão, debates com Platão (como no caso de Aristóteles): tudo gira em torno dele.

Se considerarmos o que é a estrutura indo-européia, podemos chamá-la corretamente de platonismo. O platonismo está fundado no conceito de eternidade, portanto, nunca pode ser “passado”, já que a eternidade não é o passado, mas coincide igualmente com o passado, o presente e o futuro. Assim, houve um platonismo do passado, mas também pode e deve haver um platonismo do presente, assim como um platonismo do futuro. Do mesmo modo, pode-se afirmar que, na base do platonismo, existe o Dasein indo-europeu e que ele não pertence apenas ao passado, mas é também o nosso Dasein atual; portanto, se somos indo-europeus, podemos dizer que somos platonistas, e somos indo-europeus, falamos línguas indo-européias, sendo platonistas. Este ponto é muito importante, porque nesta versão indo-européia do Logos não existe uma concepção moderna de tempo: no platonismo, o tempo é vertical – o tempo é “a imagem móvel da eternidade”, seu reflexo, diz Platão – então descemos, chegamos aqui na terra, a fim de subir, voltar à origem. Não nos realizamos na terra, pelo contrário, aqui somos apenas as “testemunhas da glória de Deus”. Tudo isso está presente em nossa tradição cristã. Isto é platonismo puro, em todos os sentidos.

Conclusão

Para concluir, gostaria de fazer algumas considerações. Primeiramente, na cultura indo-européia, o Logos vertical apolíneo não aparece de uma única forma. O Logos de Apolo pode se manifestar de diferentes maneiras; por exemplo, podemos comparar duas de suas principais formas: a forma platônica e a forma védica.

No platonismo, há um domínio absoluto da luz. Ela desce saindo da fonte, atinge o ponto mais baixo e mais escuro, o ponto mais distante, a terra, e depois retorna placidamente e feliz à sua origem. Não há nada que possa se opôr à luz. Em outras palavras, nada pode se envolver seriamente na batalha contra o céu, contra Deus, contra o Sol. Existem algumas forças de baixo, da terra, que tentam nos manter aqui,  impedindo nossa morte, impedindo o “retorno”, mas na concepção platônica elas adquirem uma importância secundária e podem ser facilmente conquistadas recorrendo à tradição ascética, seguindo a disciplina, as ordens, integrando-se na sociedade heroica, abraçando a παιδεία (paidéia), o caminho educacional da Grécia antiga que nos ensina como “retornar”. O sistema educacional na sociedade platônica não consiste apenas na obediência formal, mas na aceitação interna da ordem e no seguimento da tradição, tornar-se homens e mulheres indo-europeus em todos os aspectos, para poder percorrer o caminho vertical do “retorno”. Nesta concepção, não há lugar para o conceito de mal. Como afirmam os platonistas, o mal corresponde a uma condição de diminuição do bem; não existe mal em si mesmo. Se o bem é a origem, o sol, o céu, Deus, o mal é a distância em relação ao bem e corresponde a uma espécie de teste para a alma, uma experiência que tenta colocar obstáculos em nosso caminho para o “retorno” a nós mesmos.

Este ponto é desenvolvido de uma maneira diferente pela metafísica védica do Advaita Vedanta, em que se faz presente o conceito de que saímos da realidade e da verdade ingressando no mundo da ilusão para superar a ilusão e retornarmos a nós mesmos, porque a nossa essência é Deus. Segundo os índianos, nossa essência é divina, nós somos Deuses, só que esquecemos isso. Mesmo nesta concepção, não há problema: o Advaita Vedânta é uma versão não-dualista do Logos de Apolo, para o qual tudo o que não é divino é, na verdade, igualmente divino, apenas ainda não está consciente disso. Não há trevas nesta versão. Escuridão é simplesmente a ausência de luz. A escuridão absoluta, portanto, não pode existir. Existe apenas uma relativa obscuridade, que é uma espécie de escurecimento da luz; um apagão que, como podemos observar pela natureza, é apenas a fase que precede o amanhecer. É possível chamar tudo isso de platonismo advaita. Não há dvaita, não há dualidade.

Em resumo, as formas platônica e védica são formas não dualistas do Logos de Apolo. No entanto, ao lado deles, há outra formulação do Logos de Apolo, que encontramos na tradição iraniana, por exemplo, que é problemática. Também a tradição iraniana, como a grega e a indiana, tem suas raízes na cultura proto-indo-européia, vindo de Turan, e constitui uma forma na qual o Dasein indo-europeu se manifesta. No entanto, a tradição iraniana considera as forças opostas de maneira diferente. No que podemos chamar de platonismo dvaita (dual), a escuridão não é simplesmente a ausência ou escurecimento da luz, mas algo mais; em outras palavras, o mal existe por si mesmo. Isso dá origem a uma espécie de titanomaquìa muito intensa, uma luta entre luz e escuridão, de proporções seríssimas. Se na perspectiva platônica advaita (não-dual) não há oposição real, mas uma questão de superar uma ilusão, na concepção platônica dvaita (dual), pelo contrário, temos que enfrentar e superar um verdadeiro “inimigo” porque o mal existe por si mesmo, não sendo apenas uma ilusão, um escurecimento. No fim do dia, trata-se de uma ilusão, mas essa ilusão é real quando estamos inseridos na realidade. Estamos, portanto, lidando com uma guerra real, um conflito muito sério porque as forças das trevas, ou do que se opõe ao Logos de Apolo, desta vez são relevantes e combativas.

Na tradição indo-europeia platônica advaita, não há oposição ou a oposição não passa de um jogo, uma brincadeira. Plotino disse uma vez que "o jogo é levada a sério apenas pelas marionetes. Os que brincam entendem que tudo isso não passa de um jogo e não é sério". Mas no caso abordagem dualista, do platonismo dvaita, não é apenas um jogo. Há um conflito. Há uma guerra. E essa guerra é séria porque o poder das trevas, daquilo que se opõe ao Logos de Apolo, dessa vez é imenso e é comparável ao poder da luz. O Logos apolíneo puro, tal como se encontra presente no platonismo ou hinduísmo não-dualista não conhece o Logos de Cibele, ele não o considera importante. Ele não é considerado digno de atenção, pois ele é visto apenas como a superfície da terra à qual descemos para subir e não temos acesso à dimensão subterrânea do “buraco de rato (ou das serpentes)” localizado abaixo da superfície. Ninguém nessa perspectiva conseguiria conceber um destino na terra, dentro da terra, no buraco, tendo algo em comum com a cobra ou com o rato. Então em muitas representações arcaicas Apolo pisa a serpente, o rato ou a topeira.

Para continuar esta investigação sobre o Dasein indo-europeu e o horizonte existencial indo-europeu, devemos, portanto, estudar esta versão dualista da estrutura indo-européia, e para fazer isso, devemos examinar o que acontece quando as tribos nômades turanicas se tornam sedentárias. Nem todas as tribos indo-européias durante a história se estabeleceram; por exemplo, povos e grupos étnicos como os kalashas, os nuristanis, os pashtuns, continuaram a tradição nômade até hoje, descendentes dos citas, dos sármatas, dos alanos, dos iaziges e dos ossetas. Mas o que acontece quando, os indo-europeus se depararam com uma sociedade sedentária e a subjugaram, se tornando eles próprios sedentários? Este será o assunto da próxima lição.

Notas

[1] Aleksandr Dugin, Introduzione a Noomachìa. Lezione 1. Noologia: la disciplina filosofica delle strutture dell’intelletto, Geopolitica.ru, 27 maggio 2019 https://www.geopolitica.ru/it/article/introduzione-noomachia-lezione-2-g....

[2] Id, Introduzione a Noomachìa. Lezione 2. Geosofia, Geopolitica.ru, 19 luglio 2019 https://www.geopolitica.ru/it/article/introduzione-noomachia-lezione-2-g....

[3] Cfr. Id., Noomahija: Logos Turana. Indoevropejskaja ideologija vertikali(Noomachìa: Il Logos di Turan. L’Ideologia Indoeuropea del Verticale), Academic Project, Mosca 2017.

[4] Georges Dumézil, L’Idéologie tripartie des Indo-Européens, inLatomus: Revue d’etudes latines, Coll. Latomus 31, Bruxelles 1958. Trad. italiana: L’ideologia tripartita degli europei, Il Cerchio, 1988.

[5] Cfr. Emanuele Castrucci, La teoria indoeuropea delle tre funzioni in Georges Dumézil, in Studi in onore di Remo Martini, Giuffrè, Milano 2008, pp. 545-562: "A maior contribuição de Dumézil ao campo da pesquisa de que nos ocupamos é a descoberta da tripartição funcional como caráter qualificador da ideologia indo-europeia. A descoberta, ou seja, do fato de que nossos progenitores não praticavam meramente um tipo de 'divisão do trabalho' em três ordens ou repartiam a sociedade e seu panteão em três categorias, mas que além disso eles haviam definido e teorizado esta divisão tornando ela uma ideologia, ou melhor, segundo o sentido já esclarecido no qual Dumézil usa este termo, uma concepção global do universo, do homem e das forças e tendências que o criam e sustentam, uma reflexão sobre equilíbrios, tensões e conflitos necessários para o bom funcionamento do mundo tal como da cidade, dos homens tal como dos deuses. A ideologia 'tripartida' aparece, de fato, como o mito principal, o próprio tecido da cultura indo-eurpeia".