Nikolay Danilevsky e a ideia Eurasiana

Ao longo da história da humanidade, a ideia de grandes continentes foi objeto de discussão e debates. A palavra ‘Continente’ não representa a divisão natural e objetiva da superfície terrestre, como um substituto, a ideia de ‘Continente’ é um objeto discursivo, que engloba história, padrões específicos de sociedade e significa a existência de uma civilização única. A este respeito, a palavra ‘Continente’ não é um conceito geográfico puro, mas sim um fenômeno meta-geográfico. Além disso, na versão meta-geográfica, a ideia de grandes continentes como Grande Europa, Grande Oeste e Grande Eurásia foram mistificadas, como também mitologizada e imaginada em bases ontológicas, civilizacionais e messiânicas.
Quando se trata da ideia de "Grande Eurásia", foram a contribuição de intelectuais famosos eurasianistas, como Nikolai Berdyaev, Vladimir Soloviev, Nikolay Danilevsky, Lev Gumilev e Alexander Dugin, que desenvolveram a ideologia do eurasianismo ou a ideia da Eurásia. Esses estudiosos ocultaram a ideia da Eurásia nas esferas política, social, teológica, cultural, econômica e civilizacional. Além disso, todos esses intelectuais eram russos, que foram os pioneiros da ideia de "Grande Eurásia" do ponto de vista geográfico. Basicamente, foi o conceito de "Idéia Russa" com sua orientação espiritual, cunhado pelo filósofo russo Nikolai Berdyaev, que cercou a ideologia da Eurásia ao juntar o Universalismo Russo ao particularismo Russo. Como Berdyaev afirmou; “Toda a ideia russa declara os russos como pessoas pertencentes ao tipo religioso e são religiosos em sua constituição espiritual”.
Entre os eurasianistas, foi o filósofo e intelectual russo do século XIX Nikolay Danilevsky (1822-1885) que desenvolveu a ideia da Eurásia em torno das linhas culturais e espirituais.

Ele formulou suas ideias geopolíticas em seu famoso livro ‘Rússia e Europa’ publicado em 1869. Consequentemente, o curso da Europa do século XIX foi marcado pela competição imperial, revoluções de 1848 que varreram o continente e guerras territoriais. Nesse sentido, Nikolay Danilevsky desenvolveu sua crítica aos ideais do iluminismo ocidental e sua ameaça à civilização conservadora da Europa Oriental e da Rússia. Portanto, com sua crítica em bases espirituais e culturais, Danilevsky foi o pioneiro da ideia da ruptura da Rússia com a degenerada Europa Ocidental - assim, tornou-se um dos principais eslavófilos durante o século XIX.
Como um eslavófilo, Danilevsky viu a modernidade ocidental como o "Outro" da Rússia - o principal inimigo. Para Danilevsky, a Rússia é sócio-culturalmente distinta da Europa porque, do ponto de vista civilizacional, a Rússia é o coração da Eurásia, não da Europa. Em contraste, a Rússia como o núcleo orgânico da Eurásia é uma civilização distinta, independente daquela da Europa, o que ilustra um espetáculo separado através de bússola política, econômica e cultural. Além disso, em seu famoso livro ‘Rússia e Europa’, Danilevsky criticou a tentativa de ocidentalização de Pedro, o Grande, dois séculos antes, que transformou a sociedade russa em uma forma arqueo-moderna.
Como filósofo da história, ele viu a origem e o progresso da civilização russa como completamente diferente da Europa. Para contemplar essa perspectiva, ele se propôs a repensar a abordagem universal da história, rejeitando a cosmovisão linear do processo histórico. Para Danilevsky, a história mundial não é capaz de ajustar e identificar os ‘tipos histórico-culturais’ locais. Foi apenas o famoso historiador britânico Arnold Toynbee quem entendeu corretamente a natureza distinta do Estado russo. Como ele observou; “A Rússia é um estado do tipo bizantino ... a igreja pode ser cristã ou marxista, desde que se submeta a ser o instrumento do governo secular - E sob o martelo e a foice, como sob a cruz, a Rússia ainda é a 'Santa Rússia' e Moscou é ainda 'A Terceira Roma' ”.
A este respeito, a descrição de Toynbee do estado da Rússia, caracteriza a sociedade russa como a antítese completa do Ocidente. No entanto, na perspectiva de Danilevsky, a Rússia, interpreta geograficamente no modelo plano, fica ao centro da Europa e da Ásia, o que institui uma relação inerente com a Eurásia em linhas históricas, geográficas e civilizacionais. Da mesma forma, a Eurásia como um espaço sagrado abraça uma civilização distinta, que é multicultural, multiétnica e, portanto, se apresenta como o verdadeiro símbolo da identidade coletiva. Foi por causa desse multiculturalismo pluralista e orgânico em toda a enorme massa de terra contínua que obrigou Danilevsky a denunciar a noção ocidental de "humanidade universal". Para Danilevsky, o fenômeno da "humanidade universal" carece da originalidade e da verdadeira essência, portanto, para substituir essa noção abstrata, ele introduziu o conceito de "toda a humanidade" que se assemelha à grandeza do multiculturalismo.
Pelo contrário, ao revisar a impressão de identidade coletiva dentro da essência eurasiana, Danilevsky formulou cinco leis principais relativas ao desenvolvimento de "tipos histórico-culturais" junto com identidades típicas.

A primeira lei trata da homogeneidade linguística que contorna uma comunidade específica. A segunda lei trata da soberania política durante o crescimento da comunidade. Da mesma forma, a terceira lei envolve a formação de uma cultura única que distingue uma comunidade específica das demais. Da mesma forma, a quarta lei trata da diversidade étnica e política dentro de determinada topografia. Por fim, a quinta lei trata do desenvolvimento da civilização com certos atributos demográficos em torno da topografia específica.
À luz dessas leis, de acordo com Danilevsky, a Rússia no grande horizonte da enorme massa de terra eurasiana, pressagia um tipo cultural único que sustenta o hibridismo étnico e cultural ao formar uma civilização heterogênea de base identitária. Além disso, foi por causa desse hibridismo cultural e étnico que a Rússia conseguiu estabelecer uma grande civilização paralela ao mundo romano-germânico. Por último, mas não menos importante, quando se trata do discurso eurasiano contemporâneo, especialmente do ponto de vista russo, o trabalho acadêmico de Nikolay Danilevsky tem um lugar especial na história política russa.